terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Um pequeno histórico


-----Mensagem original-----
De: fomus@googlegroups.com [mailto:fomus@googlegroups.com] Em nome de João Carlos Cascaes
Enviada em: segunda-feira, 10 de janeiro de 2011 20:29
Para: gazevedo@gazetadopovo.com.br
Cc: fomus@googlegroups.com
Assunto: ENC: Matéria Gazeta do Povo - Transporte Coletivo

Gabriel

Em tempo, o prefeito de Blumenau era o Décio Lima, PT, primeiro mandato.
Abraços

Cascaes
10.1.2011

-----Mensagem original-----
De: João Carlos Cascaes [mailto:jccascaes@onda.com.br] Enviada em: segunda-feira, 10 de janeiro de 2011 16:59
Para: 'fomus@googlegroups.com'
Assunto: RES: Matéria Gazeta do Povo - Transporte Coletivo

Gabriel

Fui diretor de planejamento e engenharia da URBS quando o Requião foi prefeito e consultor pessoal do prefeito de Blumenau na reformulação do transporte coletivo urbano daquela cidade (Décio Salles).
Por essas e outras considero-me um autodidata.
Não tenho formação acadêmica na área, mas aprendi muito com pessoas como, por exemplo, a própria equipe da URBS, em especial o eng. Nelson Basgal e o Antonio Marchezetti.
Em 1988 fui estagiário (em transportes) do governo francês e o que ficou mais do que evidente é que estávamos muito atrasados em termos de tecnologia.
Naquela época na França em torno de trinta cidades implantavam ou tinham em operação sistemas de apoio ao trânsito e operação do transporte coletivo.
Já possuíam o minitel, em torno de três milhões de unidades, e de Paris podíamos, por exemplo, saber por esse telefone, meio computador, quantos minutos faltavam para ônibus e metrô chegassem aos pontos de embarque em Lion (imagine esperar ônibus ou bonde na neve).
Havíamos tentado recuperar o sistema de Curitiba (o primeiro do hemisfério sul a entrar em operação sob a direção do arquiteto Marcos Prado), mas infelizmente fora abandonado, sucateado (o eng Ivo Pugnalloni pode falar disso).
Na Europa, na França onde vi melhor, diversos sistemas eram usados, dependendo de quanto as comunas se dispunham a pagar via um imposto que incidia sobre a folha de pagamento das empresas com mais de 10 funcionários (à época) e tarifas.
Ônibus e metrô novos (Lille, o VAL) tinham excelente padrão de acessibilidade, sem falar nas calçadas (em Paris pode-se notar que asfaltaram sobre pisos mais antigos).
Ou seja, trabalhando na qualidade dos ônibus (suspensão, freios, motor, layout, informatização e comunicação), sem deles exigir loucuras, e aprimorando a mobilidade do pedestre pode-se chegar até um excelente nível de atendimento se a cidade permitir.
Todo sistema possui limites.

Em Curitiba já deveríamos estar implementando um sistema complementar (elevado e/ou subterrâneo) de modo a se aumentar a capacidade de transporte.

Note, contudo, mais uma vez, que as calçadas são parte essencial do sistema.
A segurança do usuário do transporte coletivo urbano, dentro e fora do ônibus, é fundamental à adesão ao sistema e ao se induzir o cidadão a deixar os carros nas garagens.

Outro recurso é ampliação dos calçadões, ruas para pedestres e serviços, apenas.

Na década de oitenta Curitiba tinha superado seu limite de endividamento, mesmo assim, com um custo pequeno na tarifa, criou-se a frota pública cujo objetivo era viabilizar-se uma forma de subsídio ao sistema assim como a retirada do custo de gerenciamento (URBS) das tarifas. Pagava-se por km rodado o que permitia o aprimoramento da circulação conforme vontade da PMC, além de se facilitar esquemas de subsídio direto, pois a URBS é controlada pelo município. Estávamos desenvolvendo sistemas de fiscalização severos...

O presidente da URBS, Stênio Salles Jacob, foi um tremendo executivo e a lógica veio do prefeito (Roberto Requião) e seu secretário de transportes
(francês) Germinal Poca. Esse conjunto de soluções era muito bem discutido à época. Afinal, do outro lado da mesa, existia gente muito inteligente operando o sistema.

Éramos uma equipe focada em aprimorar o sistema. Além da frota pública que a URBS comprou por concorrência pública implantamos o vale transporte com catraca automática e ficha metálica (algo que criou uma moeda estável, sem possibilidades de ajustes marotos), impomos padrões de layout aos veículos, proibimos a utilização de motor frontal após algumas experiências, reformamos os terminais, pavimentamos alguns trechos das canaletas, construímos ou iniciamos a construção de terminais, foi criada a linha de vizinhança e outras, tudo apesar da tremenda falta de recursos.
Os fabricantes sofreram com a entrega/comissionamento dos ônibus, mas evoluíram à medida que entenderam nossas razões.

O natural era que o sistema evoluísse.
Teve um brilhante começo com a criação das canaletas (Jaime Lerner) e tinha tudo para continuar avançando bem.
Infelizmente perdemos oportunidades, regredimos. O pessoal perdeu o "time", o momento de mudanças significativas aumentando e melhorando a capacidade do sistema.
Pode-se, contudo, fazer muito rapidamente para melhorar enquanto esperamos algo tipo metrô.
O principal é o pedestre.
Quem usa o transporte coletivo urbano precisa caminhar com segurança, sem cair em buracos, tropeçar em raízes e pedras soltas, ter iluminação adequada, não enfrentar barreiras tipo "orelhão" e bancas de qualquer coisa, poder atravessar as ruas com segurança, não ser assassinado ou assaltado et.
A colocação de ônibus que estiverem sem apoio de embarque em nível deve ser com veículos de piso rebaixado e ajoelhamento.
É um constrangimento terrível para o cadeirante esperar o acionamento de elevadores e para pessoas fragilizadas subir e descer de um ônibus é um tremendo risco de acidente.

Obviamente, vamos insistir, a velocidade de veículos pesadíssimos numa cidade deve respeitar critérios de segurança para os motoristas, passageiros, cobradores, pedestres etc.

As calçadas deveriam ser de reponsabilidade das prefeituras, não podem ter centenas de milhares de gerentes, até porquê o pedestre e o proprietário do imóvel são os que menos aproveitam esse espaço, usado intensivamente pelas concessionárias de serviços públicos e a própria prefeitura. Feitas com padrões que garantam segurança (sem escorregões, trombadas, torções, quedas em buracos etc.) poderemos usar o transporte coletivo se o estado também colaborar aumentando a segurança nas ruas das cidades.

Abraços

Cascaes
10.1.2011



-----Mensagem original-----
De: fomus@googlegroups.com [mailto:fomus@googlegroups.com] Em nome de gazevedo@gazetadopovo.com.br Enviada em: segunda-feira, 10 de janeiro de
2011 15:40
Para: fomus@googlegroups.com
Assunto: Matéria Gazeta do Povo - Transporte Coletivo

Olá amigos do Fomus. André, Ghidini, Cascaes e Lafaiete. Como vocês são sempre solícitos comigo, volto novamente a pedir ajuda. Estamos produzindo uma matéria especial para domingo sobre o transporte coletivo. Gostaríamos de ouvir os senhores. Como melhorar o transporte coletivo de Curitiba, considerado modelo no resto do país? Ainda dá para dizer que o sistema é bom, mesmo com tanto acidente e problemas recorrentes, como a superlotação?
Quais são as principais deficiências? O que a cidade deixou de fazer para que o sistema não evoluísse?
Fecho a matéria quarta-feira.

Como vamos investir bastante na matéria. Gostaría de perguntar se por um acaso vocês têm os contatos (telefone, e-mail)de ex-diretores da Urbs. De arquitetos urbanistas, especialistas em trânsito, professores que estudam ou estudaram o transporte coletivo de Curitiba. É claro que vou entrevistar vocês pessoal, mas preciso ouvir outras pessoas, se puderem indicar.

Um grande abraço.

Gabriel Azevedo
Vida e Cidadania
3321-5041
Gazeta do Povo



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